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CARTA DE BOM JESUS PIAUÍ - I - Seminário e Feira Estadual da Agrobiodiversidade e Sementes Crioulas

  • Writer: MCP Brasil
    MCP Brasil
  • Aug 6
  • 3 min read

Nos dias 29, 30 e 31 de julho de 2025, camponeses e camponesas, professores, pesquisadores, estudantes, instituições parceiras representando vários municípios do Estado do Piauí e órgãos governamentais convidados, reuniram-se no Centro de Esporte e Lazer Dom Ramon Carrozas no município de Bom Jesus - PI, no I - Seminário e Feira Estadual da Agrobiodiversidade e Sementes Crioulas.

O encontro foi animado pela mística de valorização da produção de alimentos saudáveis, pela feira dos produtos da sociobiodiversidade e pelo momento da troca de sementes crioulas agroecológicos entre os camponeses. Os debates sobre a conjuntura agrícola e agrária brasileira, comida saudável: dever do estado, direito do povo, compromisso camponês e justiça climática; as plenárias das mulheres e da juventude, além da oficina sobre as sementes crioulas e agroecologia foram de aprofundamento e emocionantes.

Os relatos, os debates e a diversidade das experiências partilhadas, nos trouxeram as CONSTATAÇÕES, QUE:

1.      As políticas públicas do Governo Federal e Estadual não chegam aos territórios da Região Sul e extremo Sul do Piauí como deveriam, e quando chegam são insuficientes, diante das demandas;

2.      Os camponeses e as camponesas não têm assistência técnica nas propriedades como necessitam, ficando sem assessoria diante dos desafios da organização produtiva, considerando produção, processamento e comercialização dos produtos;

3.      A agricultura praticada pelos camponeses e camponesas, é penosa de baixo rendimento produtivo, com baixo índice de processamento e é limitada pelas condições de logística. Isto, principalmente, pela falta de acesso às tecnologias adaptadas à agricultura camponesa na produção, processamento, armazenamento e na logística de transporte de alimentos e sementes crioulas;

4.      As péssimas condições das estradas são empecilhos para escoamento da produção, sendo um fator desestimulador à produção de alimentos e sementes para as famílias agricultoras, soma-se a isso, a falta energia elétrica em muitas comunidades;

5.      A dificuldade da implementação da educação do campo nos níveis fundamentais e médios, com currículos contextualizados, além do baixo apoio em nível superior tem obrigado a juventude a se deslocar para a cidade para darem continuidade aos estudos, quando não desistem. Isso resulta no êxodo rural;

6.      A falta serviço de saúde também é uma barreira que limita a qualidade de vida das pessoas, por ausência de atendimento básico e oferta de serviço especializado, em especial as mulheres, crianças e os idosos;

7.      A falta de acesso a mercados é outra barreira que implica na diminuição da produção de alimentos saudáveis e de sementes crioulas nos territórios, bem como a exigência sanitária sobre os produtos minimamente processados;

8.      A burocracia de acesso às linhas de créditos do PRONAF para a agricultura familiar, como a falta de uma política de agroindustrialização da produção familiar atingem particularmente as mulheres e a juventude camponesa;

9.       A devastação dos ecossistemas da região para implementação de projetos de monocultivo do agronegócio, torna a natureza e a biodiversidade as principais vítimas da espoliação para acumulação de mais lucros;

10.   A criminalização das lutas sociais e populares é intensificada pela violência do latifúndio que pressiona as comunidades, com ameaças diretas;

11.   O agronegócio, mesmo detendo mais de 46% das terras agricultáveis do Brasil, é quem menos gera empregos no campo. Suas ações ameaçam os territórios e a vida, pois praticam a agricultura predatória que mata o solo, contaminam as águas e envenenam as pessoas, animais e plantas por meio da pulverização gerando desequilíbrio ambiental, crise climática, empobrecimento no campo e desigualdade social;

12.   A agricultura camponesa do Piauí é de baixo impacto ambiental. Isso significa, que não somos responsáveis pela crise climática em curso;

13.   A produção de alimentos saudáveis, sementes de qualidade e a sustentabilidade dos sistemas produtivos e ecológicos são resultados das práticas dos guardiões das agrobiodiversidade, que são os camponeses e camponesas.

Diante da realidade constatada, ASSUMIMOS O COMPROMISSO, DE:

14.   Participação da Cúpula dos Povos, na agenda da COP30 com delegação de 50 camponeses e camponesas do Piauí nas ações coletivas, nas feiras da sociobiodiversidade e agenda sobre a Agrobiodiversidade e Justiça Climática;

15.   Assumir a realização do XI-Seminário Nacional da Agrobiodiversidade e Sementes Crioulas – SENASEC, em 2026, no estado do Piauí;

16.   A estruturação da Unidade de Beneficiamento de Sementes Crioulas (UBS) na Região Sul do Piauí, em parceria com a Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio da Secretaria da Agricultura Familiar e Agroecologia (SAF), Programa Da Terra à Mesa, edital 01/2024;

17.   Considerar os princípios da agroecologia como diretrizes estratégicas para o desenvolvimento de sistemas de produção coletivos, justiça climática, e as práticas de valorização do equilíbrio com o ambiente.

Portanto, só será possível transformar a realidade rural brasileira com o envolvimento dos diversos seguimentos e povos dos territórios, com valorização dos seus saberes e conhecimentos como meio de superação do modo de produção capitalismo dominante. Nosso compromisso é com a vida e com as culturas dos povos. Nossa luta é por soberania alimentar e poder popular!

 

Bom Jesus do Piauí, 31 de julho de 2025.


 
 
 

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