MCP protagoniza lançamento do Projeto Raízes Agroecológicas em defesa da agricultura camponesa e das sementes crioulas
- MCP Brasil
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Entre os dias 1 e 5 de setembro de 2025, o Movimento Camponês Popular protagonizou em Sergipe o lançamento do programa Raízes Agroecológicas, parte do Programa Global para Pequenos Produtores Agroecológicos e a Transformação Sustentável dos Sistemas Alimentares (GP-SAEP), reunindo camponesas, camponeses, técnicos e pesquisadores do Brasil, Argentina e Bolívia. O encontro, realizado em Aracaju, Riachão do Dantas e Itabaianinha, foi um marco na luta por autonomia camponesa e soberania alimentar na consolidação da agroecologia como caminho de transformação socioeconômica.
O Projeto Raízes Agroecológicas constitui uma ação estratégica apoiada pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e pela União Europeia, sob a coordenação do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). A iniciativa tem como eixo central o fortalecimento da agricultura camponesa por meio do melhoramento genético participativo, da preservação da agrobiodiversidade e da promoção de intercâmbios entre países do Sul Global, reconhecendo a centralidade desses territórios na construção de alternativas ao modelo agroalimentar hegemônico.

O projeto busca enfrentar contradições históricas da agricultura camponesa, marcadas pela insuficiência de recursos produtivos, pela exclusão em políticas públicas estruturantes e pela pressão exercida por sistemas agrícolas de base industrial. Ao mesmo tempo, propõe uma transição agroecológica que valoriza o conhecimento ancestral, fomenta redes de cooperação territorial e fortalece comunidades locais como sujeitos políticos na disputa por soberania alimentar, justiça climática e democratização do acesso à terra e aos meios de produção.

Imagem: Saulo Coelho
Ao longo desses cinco dias de muita partilha de saberes, o MCP esteve à frente da mobilização das comunidades camponesas, que receberam parceiros de diferentes instituições e países para o intercâmbio de experiências e a prática coletiva no campo. Entre os destaques estiveram a participação da pesquisadora Cynthia Torres e do pesquisador Altair Toledo Machado, da Embrapa Cerrados, da pesquisadora Cristiane Otto de Sá e do pesquisador José Luís de Sá, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, contribuindo com as oficinas de práticas sobre manejo dos agroecossistemas camponeses, corredores agroecológicos, do diagnóstico da agrobiodiversidade, das atividades sobre estratégias de melhoramento participativo descentralizado e a continuação do melhoramento participativo.
Um dos momentos mais significativos ocorreu durante a visita ao Corredor Agroecológico e à atividade de melhoramento genético participativo em milho crioulo, realizada junto à comunidade do Povoado Dispensa, em Itabaianinha, na propriedade da Dirigente Nacional do MCP, Ana Maria dos Santos Guimarães e Presidenta da Associação de Camponesas e Camponeses do Estado de Sergipe (ACCESE), Kauane Batista. A ação simboliza a articulação entre ciência e saberes tradicionais, reafirmando o protagonismo das comunidades camponesas na produção e conservação de sementes adaptadas às realidades locais.

Imagem: Saulo Coelho
Na sequência, em Riachão do Dantas, os participantes puderam conhecer a futura instalação da Agroindústria de Cuscuz Crioulo, iniciativa que expressa não apenas a valorização das sementes crioulas do campesinato sergipano, mas também a construção de alternativas econômicas autônomas. Esse empreendimento representa uma estratégia de enfrentamento às dinâmicas de dependência impostas pelo agronegócio, ao mesmo tempo em que reforça a autonomia produtiva, a soberania alimentar e o fortalecimento das comunidades enquanto sujeitos coletivos na disputa por modelos de desenvolvimento mais justos e sustentáveis.

Imagem: Saulo Coelho
O encontro contou com a participação de cerca de 100 pessoas, sendo 30 do MCP (Brasil), 11 representantes do INTA (Argentina), 9 da Bolívia, além de 5 integrantes de organizações sociais bolivianas, 9 do IICA, 4 do FIDA, 10 da Embrapa, além de representantes da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural (SEAGRI) e da Access Agriculture.
Mais do que um espaço de capacitação, o Projeto Raízes Agroecológicas constituiu-se como uma construção coletiva de saberes e práticas que fortalecem o protagonismo camponês na luta contra a fome, as mudanças climáticas e a concentração do poder sobre as sementes. Nesse sentido, não se limita a uma intervenção técnica, mas se afirma como estratégia política de resistência e afirmação camponesa, inserida em um movimento mais amplo de transformação dos sistemas agroalimentares globais, em sintonia com as agendas de desenvolvimento sustentável e de justiça social.
O MCP segue firme na luta, ampliando o acesso às sementes crioulas, às ferramentas e aos conhecimentos que asseguram a vida no campo e a preservação da agrobiodiversidade, reafirmando o papel central da agricultura camponesa na construção de um futuro justo e soberano.

Texto: Comunicação Nacional: Ana Lydia
MCP Sergipe: Diego Eleonaldo